A LÓGICA DA SERPENTE!
Porque me foi dada a capacidade dO pensar?
Porque me foi dada a necessidade dO amar?
Porque me pôs Deus, vegetal,
Feliz e tranquilo,
Sorrindo ao canto das aves,
Bebendo do escorreito das fontes,
Seguindo o curso dos rios,
Ouvindo o murmúrio dos ventos,
Sentindo a brisa do mar,
Vegetando na felicidade
De dias sem fim no paraíso?
Porque me foi dada a capacidade dO “fazer juízo”
Sobre a lógica da serpente?
Se na voz da serpente pôs Deus a lógica,
A mim, vegetal, pôs a capacidade dO sentir,
A necessidade dO amar, o desejo dO possuir.
Fatalmente,
Colhi a maçã que me desejava
Tão virgem e apetecível,
E tão carente quanto eu.
Dei a primeira trincada
Satisfazendo a minha libido,
A nossa libido
De vegetal só e carente
E sem a lógica da serpente,
Apenas pelo meu sentir
E partilha do nosso querer,
Num instinto de viver,
Possui-a virgem e pura
Num gemido de prazer
A cada pedaço do meu desejo.
Estava tão carente quanto eu,
Apesar de viver no céu
Onde nada se passava
Além de ser virgem e pura.
O gesto, o acto,
Me parece natura,
Para um vegetal com mente
Que em estado carente
Partilha O amar, O desejo, O possuir.
Porque me pôs Deus
A capacidade dO sentir,
Se me queria vegetal?
Porque não me deixou
Feliz e contente,
Brotando semente
Como os lírios do campo?
Para eu provar do seu veneno mortal?
Ou para me agrilhoar ao estigma original?
Por que me expulsou do Olimpo,
Se ao seu filho lhe pôs Madalena?
Porque me foi dada a capacidade dO pensar?
Porque me foi dada a necessidade dO amar?
Porque não continuei vegetal,
Feliz e tranquilo,
Sorrindo ao canto das aves,
Bebendo do escorreito das fontes,
Seguindo o curso dos rios,
Ouvindo o murmúrio dos ventos,
Sentindo a brisa do mar,
Vegetando na monotonia
Dos dias sem fim no paraíso?
Porque me pôs Deus, Eva,
Se me queria castrado entre os lírios do campo?
Porque me pôs Deus
A capacidade dO sentir,
Se me queria vegetal, carente e santo?
Angelino Silva
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