terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ODE AO PÃO

ODE AO PÃO

Pão, Com farinha
 
Água
 
E fogo
 
Te levantas.
 
Espesso e leve,
 
Reclinado e redondo,
 
Repetes
 
O ventre Da mãe,
 
Equinocial
 
Germinação
 
Terrestre.
 
Pão,
 
Que é fácil
 
E que profundo tu és:
 
No tabuleiro branco
 
Da padaria
 
Estendem-se as tuas filas
 
Como utensílios, pratos
 
Ou papéis,
 
E de súbito a onda
 
Da vida,
 
A conjunção do germe
 
E do fogo,
 
Cresces, cresces
 
De súbito
 
Como
 
Cintura, boca, seios,
 
Colinas da terra,
 
Vidas,
 
Sobe o calor,
 
inunda-te
 
A plenitude,
 
o vento
 
Da fecundidade,
 
E então
 
Imobiliza-se a tua cor de ouro,
 
E quando já estão prenhos
 
Os teus ventres
 
A cicatriz escura
 
Deixou sinal de fogo
 
Em todo o teu dourado
 
Sistema de hemisférios.
 
Agora intacto.
 
És Ação de homem
 
Milagre repetido, vontade da vida.
 
Ó pão de cada boca
 
Não Te imploraremos
 
Nós, os homens,
 
Não somos Mendigos
 
De vagos deuses
 
Ou de anjos obscuros:
 
Do mar e da terra
 
Faremos pão,
 
Plantaremos de trigo
 
A terra e os planetas
 
O pão de cada boca
 
De cada homem, em cada dia
 
Chegará porque fomos
 
Semeá-lo E fazê-lo,
 
Não para um homem, mas
 
Para todos,
 
O pão, o pão
 
Para todos os povos
 
E com ele o que possui
 
Forma e sabor de pão
 
Repartiremos: A terra,
 
A beleza, O amor,
 
Tudo isso
 
Tem sabor de pão,
 
Forma de pão,
 
Germinação de farinha,
 
Tudo
 
Nasceu para ser compartilhado,
 
Para ser entregue,
 
Para se multiplicar,
 
Por isso, pão,
 
Se foges
 
Da casa do homem,
 
Se te escondem,
 
Se te negam,
 
Se o avarento
 
Te prostitui,
 
Se o rico
 
Te armazena,
 
Se o trigo
 
Não procura suco e terra,
 
Pão,
 
Não rezaremos,
 
Pão,
 
Não mendigaremos,
 
Lutaremos por ti com outros homens,
 
Com todos os famintos,
 
Por todos os rios, pelo ar
 
Iremos procurar-te,
 
A terra toda repartiremos
 
Para que tu germines,
 
E conosco
 
Avançará a terra:
 
A água, o fogo, o homem
 
Lutarão junto a nós.
 
Iremos coroados
 
De espigas, conquistando
 
Terra e pão para todos,
 
E então,
 
Também a vida
 
Terá forma de pão,
 
Será simples e profunda,
 
Inumerável e pura.
 
Todos os seres Terão direito
 
À terra e à vida,
 
E assim será o pão de amanhã,
 
O pão de cada boca,
 
Sagrado,
 
Consagrado,
 
Porque será o produto
 
Da mais longa e dura
 
Luta humana.
 
Não tem asas
 
A vitória terrestre:
 
Tem pão sobre os seus ombros,
 
E voa corajosa
 
Libertando a terra
 
Como uma padeira
 
Levada pelo vento.
 
 
Pablo Neruda
lido por Alzira Santos

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