DESPEDIDA
Encanecida pátria de joelhos,
aqui te deixo, exausto de sofrer-te.
Vou de olhos secos, cegos de perder-te,
sossegar ódios velhos.
Vou destruir-te as lágrimas de rojos,
nas mãos e mãos inertes.
Aos que sabem a ciência de vender-te
abandono os despojos.
Vou procurar-te ao bafo de outra face
quente, clara e agreste.
Aconchego-te aos restos
da minha pele gasta de afagar-te.
Vou de jornada. Aceno
um lenço breve e incerto.
Voltarei, voltarei. Num gesto
mais rebelde e sereno.
Ergue os teus ombros, pátria de joelhos,
olha-me bem nos olhos para ver-te.
Quero levar-te e ter-te
no meu ódio já velho.
(Notícias do Bloqueio, Fascículos de Poesia – 9, Porto, Março de 1962)
José Augusto Seabra
in “Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade”
Org. de José Fanha e José J. Letria
Lisboa, Terramar, 2002
lido por Ana Maria Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário