AMA-SECA
Meus olhos trazem-me o mundo,
inteiro,
mal acordo,
ainda mal é de manhã,
para que eu tome conta dele.
Então pego nele ao colo,
como se fosse um menino,
e olho o céu e a cidade e as
árvores e as flores
e os montes e a pradaria,
e vigio o azul, o lilás, o verde, o
amarelo,
e todas as demais cores
que me pintalgam cá por dentro,
na alma,
não vá o sol desbotá-las.
E escuto os pássaros
e as cigarras,
e o vento e as cachoeiras e o mar,
a ver a sua afinação
e se continuam a entorar
aquele cântico de bem-dizer
que me alegra o viver
e o coração.
E sorvos os cheiros
e provo as coisas que se me
oferecem,
tranquilas,
dóceis, lentas, delicadas,
em ritual de comunhão solene.
E cinjo tudo o quanto existe
no amplexo de meus braços,
e regalo-me
com a textura dos seres que me
afagam
com doçura e
com tamanha maciez.
E com a verdade com que o rio corre
ao mar
ou a Terra se passeia,
dia a dia,
em curva, à roda do Sol,
assim eu vejo que a natureza está
certa
e nela há um lugar para mim.
E o mundo fica comigo, em
tranquilidade
até se cansar,
piscar os olhos e
adormecer no meu peito.
Serenamente,
eu adormeço com ele, como se
já nada mais existisse,
e a noite nos sorrisse
a ambos,
e nos levasse por aí fora,
pela terra dos sonhos bons.
1 de
Março de 2013
Miguel
Leitão
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