FADO DO CASTELO
levei-te a ver um castelo
altaneiro sobre o mar
achaste que era tão belo
que te puseste a chorar
indo o meu amor tão alto
que sonhava as próprias rotas
e voava entre gaiolas
por um céu azul cobalto,
quis ver-te sem sobressalto
a desfraldar o cabelo
por um voo paralelo
em que pairasses comigo
e me vez de dar-te um abrigo
levei-te a ver um castelo.
tinha canhões e pelouros
a espreitar pela muralha,
trepadeiras numa falha,
lendas de ocultos tesouros.
já tinha sido de mouros,
cristãos o foram tomar
e agora vinha prestar
com a torre de menagem
ao nosso amor vassalagem,
altaneiro sobre o mar.
bordada, de lés a lés,
de alva espuma em toda a costa,
lá em baixo estava posta
a toalha das marés.
tendo o mundo a nossos pés
havia estranho duelo
entre o sol inda amarelo
e a voz irada do vento
e nenhum outro momento
achaste que era tão belo
mas por causa da altitude
ou talvez da ventania,
súbita melancolia
te ensombrou a juventude.
foi assim que eu já não pude
impedir o negro azar
de uma nuvem a ancorar
por cima da fortaleza
e tal foi nossa fraqueza
que te puseste a chorar.
Vasco
Graça Moura,
in: “Poesia 1997/2000”
lido
por Maria Augusta Silva Neves
Sem comentários:
Enviar um comentário