MENINO
DO BAIRRO DA LATA
Menino
que me bate à porta
da
alma.. triste e magoada,
dizendo
que a mãe está morta;
menino
chorando no passado!
Corria,
que a mãe esperava
na
cancela do bairro da lata!...
Abraçava-o
nunca cansava,
mas na
aula a hora é chata.
Dizia.
Roubava-lhe tempo e ternura!
A mãe,
tão querida, espera, é hora!...
Corre o
menino louco pela rua
onde o
destino cobra e mora!
Porém,
de longe algo pressentia…
Que se
passa? A mãe vai embora?
Não, a
mãe ali mesmo caía!
E
sofrendo o menino corre e chora.
Morreu
na cancela, tão ansiosa,
sem ver
o menino, sem um beijo sequer,
caiu
como uma flor na terra arenosa,
sem
nome, sem fala, apenas mulher!
Perguntei-lhe
depois, ‘inda tão tristonho:
- e teu
pai? Anda sempre a cair,
bebe
muito vinho; meu irmão Tonho
anda
sempre a correr pra lhe acudir!
E não
tens mais ninguém? Uma irmã,
que sai
todas as noites, a fazer não sei o quê!
E
comida, quem é que a faz? Não há…
Só
pasteis secos, que mais ninguém quer comer!
Que dão
ao meu irmão lá,
Na
confeitaria onde trabalha.
E sendo
a única coisa que há,
Eu
prefiro pedir, que melhor calha!
Meu
filho, com síndrome de Down,
andava
na mesma escola
e com
ele fez amizade sem fraude
puro
sentir que não cabe na sacola!
E trá-lo
pela mão; mãe, leva,
roga:
leva pra casa, eu não resistia!
E o
menino passou a ser seu colega.
Chegava
a casa, lavava-o e vestia.
Pra
poder sentá-lo à mesa,
porque o
aspecto era assustado,
passou a
ser uma certeza
a sua
presença no meu labor!
Até ao
dia que acabaram
com o
horripilante bairro da lata!
Então as
gentes abalaram
E só a
lembrança do menino me arrebata.
Maria
de Lourdes Martins
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