quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A MORTE…!


A MORTE…!

Até há pouco chegava-nos lenta.
Vinha em bico de pés,
vestia fato e gravata,
deslocava-se em topo de gama,
mas vinha lenta, soft, envergonhada,
como que a pedir desculpa:

Chegava-nos em prestações suaves.

Hoje, chega-nos virulenta.
Anuncia-se com ar sério e grave,
veste-se de fato sem gravata
e amortalha-se de rigor cientifico
e sufoca-nos até ao estertor final
e não admite opções de alternância.
Também nos chega em topo de gama,
mas em maior quantidade,
porque maior é o numero de assassinos:
Pretendem um processo rápido,
silencioso e sem ondas de contestação,
porque é do futuro que se trata
e o futuro é já amanhã e não se pode adiar;
O tempo urge e o amanhã leva atraso,
afirmam os profissionais do crime!

Dantes, quando precocemente chegava,
anunciava-se em (m)agrura de tísico,
somando grão ao grão,
partícula à partícula,
num sufoco lento, asfixiante e penoso,
até que o pó nos chupava os pulmões.
Os assassinos do antanho tinham alma caridosa,
e antes do golpe final,
proporcionavam aos mortos-vivos
uma última estadia com vista sobre a serra
entre os ares do caramulo e os ares da estrela!
Era de pureza, a sentença de morte.
O tempo era outro e os assassinos amadores!

São profissionais, os assassinos d´agora:
têm staff, banco, casa forte,
tempo de antena permanente e papagaios…
ah… e têm guarda-costas e tropa de choque,
porque o tempo urge
e o dia de amanhã é hoje,
porque é do futuro que se trata,
esclarecem os profissionais do crime;
Malabaristas, constroem máquinas de sorriso,
entregam o guião ao papagaio de serviço,
e com masoquismo executam o crime perfeito:
asfixiam a vitima até à penúria
e de vilões passam a heróis
e como recompensa,
é a própria vitima que lhes paga o serviço.
Sorridentes,
sobem ao palco da mesura,
recebem os óscares e regressam ufanos
pela vénia cumprida,
cientes do crime que esmaga o sorriso de um povo.
O argumento é forte: Porque o tempo urge,
a economia geme e os mercados desconfiam,
não há segunda opção, afirmam
e exibem até à náusea, até ao vómito,
as receitas e números de malabarismo
na tentativa de convencer
que o sofrimento de hoje é o sorriso de amanhã.
Nesta receita,
os mafiosos massacram o peão de brega
e deixam intocável a loja nostra e seus padrinhos.

São profissionais, os assassinos d´agora:
Vêm do ócio e vivem da ociosidade
e têm na cabeça um pote de merda,
a mesma que espalham quando abrem a boca,
e inundam o mundo de ar pestilento e de desgraça.
São filhos da mãe, os criminosos de hoje,
paridos por mães imaculadas,
tão imaculadas como a minha,
que estupefactas, coram de vergonha
perante as aberrações que puseram no mundo.

Quanto a mim, a opção é clara:
Não balanço entre a morte e a luta,
porque destes filhos da mãe,
antes da morte, prefiro a luta
e quando os derrubar da cadeira,
saltarei para a rua
e desta vez eu, ele e tu
em vez de cravos, levaremos espinhos
e nos sorrisos dos criminosos faremos voodoo.

Angelino Santos Silva

1 comentário:

  1. esclarecem os profissionais do crime;
    Malabaristas, constroem máquinas de sorriso,
    entregam o guião ao papagaio de serviço,Lindo e com imaginação em vez de cravos,levamos espinhos lindo .

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