PARA
GARCIA LORCA
O chapéu
de três bicos
à las
cinco de la tarde
que a
guarda civil mostrava
planícies
de couro e sol
tecidas
do movimento da fala.
Era um
pontapé no escuro
chama
que nunca apagava
o sangue
e as castanhetas
de
repente entontecia
Espanha
fria madrugada
da chuva
que não caía
da sorte
que lhe azarava.
Dos
caminheiros sem fim
por
montes esburacados
por
bandeiras de setim
manchas
de terra e trigo
e de uma
gota de sangue
que de
Goya se escapava
e de
Ferrer se nutria.
Essas
bandeiras de fome
que a
fartura de coragem
tanto
levava adiante
de
repente entontecia
fazia
romper a aurora
rasgava
de lume e beijos
do
incêndio das paixões
e que à
las cinco de la tarde
era de
mais uma hora
era de
mais uma hora…
Luzia o
sol. Fundo feria
nesse
chorar da guitarra
feria
fundo e luzia
quebrava
longe a campina
nenhum
touro se avistava
e o
horizonte bulia
e
falava-se com terra
e com
terra se cobria
a morte
na madrugada.
Luzia a
lua. Luzia
como
fogachos de nada
na preta
noite ferida
da
distância e da longura
no grito
da Estremadura.
O cigano
emudecia
as
marcas da mão gretada
e a lua
sem compaixão
iluminada
de nada
e nada
que ali havia
que de
Goya se escapava
e de
Ferrer se nutria.
Ai que
nem um sino rompia
o
silêncio de vinte anos
um frio,
frio, fazia
chover
calor pela aurora
e
rebentar de paixões
de tanto
lume na estrada
do
braseiro no trigal
na
quietude morena
de
penhascos já tão gastos
e de
grilos e de palha
e de
MANUEL DE FALLA
que de
Goya se escapava
e de
Ferrer se nutria.
Esse
chapéu de três bicos
de três
cornos se dizia
Luzia o
sol. Sim. Luzia.
Fernando
Morais
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