ÂNGULO
Aonde
irei neste sem-fim perdido,
Neste
mar oco de certezas mortas? -
Fingidas,
afinal, todas as portas
Que no
dique julguei ter construído...
-Barcaças
dos meus ímpetos tigrados,
Que
oceano vos dormiram de Segredo?
Partiste-vos,
transportes encantados,
De
embate, em alma ao roxo, a que rochedo?...
Ó nau de
festa, ó ruiva de aventura
Onde, em
Champanhe, a minha ânsia ia,
Quebraste-vos
também ou, porventura,
Fundeaste
a Ouro em portos de alquimia?...
Chegaram
à baía os galeões
Com as
sete Princesas que morreram.
Regatas
de luar não se correram...
As
bandeiras velaram-se, orações...
Detive-me
na ponte, debruçado,
Mas a
ponte era falsa - e derradeira.
Segui no
cais. O cais era abaulado,
Cais
fingido sem mar à sua beira...
- Por
sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um
outro, só metade, quer passar
Em
miragens de falsos horizontes -
Um outro
que eu não posso acorrentar...
Barcelona - setembro 1914
Mário de
Sá-Carneiro
in “Poemas
Completos
Edição
Fernando Cabral Martins
Assírio
& Alvim
2001”
lido por
Ricardo Braga
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