quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O PROGRESSO



O PROGRESSO

Nasceu ali uma casa
que se pôs logo a crescer
por não ter a luz que queria.
É que havia,
mesmo em frente.
outra casa já velhota
onde habitava outra gente
com outra forma de ser.

Subiu três ou quatro andares,
orgulhosa,
e pôs-se a mirar lá de cima
a paisagem em redor
que lhe pareceu acanhada,
pequenina,
indigna da sua altura,
do seu ar desempoeirado
e superior.

Muitas pessoas vieram
e trouxeram
uma nova linguagem:
ninguém lhes falasse em casa
ou moradia,
mas em andar,
que era aí que elas moravam,
e de alto olhavam,
e se sentiam
muito mais perto do céu.

Mas ao lado,
um outro prédio nasceu
e cresceu mais…
ainda mais.
E outro e mais outro surgiram
em desenfreada competição.
E o bairro
- assim se chamava agora –
continuou a inchar
por fora…
… e por dentro,
que os carros também chegaram
e ocuparam
o que ainda era lugar.

Minúscula e envergonhada,
a casinha que assombrava
a alta casa em construção
nem se vê, hoje em dia,
que até encolheu.

E o gato que nela havia
e corria rua fora
passa agora a tarde inteira
na janela
no lugar da sardinheira
que entretanto secou.

O menino que a regava
também cresceu
e teve que sair dali.
Emigrou!

Miguel Leitão
1 de Julho de 2013

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