sexta-feira, 23 de agosto de 2013

MÁSCARAS



MÁSCARAS

Do teu castelo de altivez desceste
feita águia
- penas azuis a faiscar ao sol –
e abeiraste-te do meu pântano de infortúnio
e mágoa
onde não pudeste mergulhar.

Poisaste à margem,
mas nem sequer ousaste olhar a água
e rever-te
no espelho das palavras que eu te dava.

Delas fizeste pedras
para alevantares um muro
de silêncio
e te esconderes lá dentro dele.
Mais uma vez!

Mas quem sabe ao certo o que é “lá dentro”?

Dentro ou fora é tudo o mesmo.
Na metade de uma laranja
que um diâmetro delimita
poisa a mosca
e, na outra, a aranha.
Quem está dentro e quem está fora?
O que pensa uma da outra?

A máscara que mostramos a quem nos olha
encobre tudo aquilo que nós somos
e aquilo que ocultamos
é o que muitas vezes nos revela.

Quem sabe se nesse peito içado de águia
não se esconde o coração de uma andorinha?

Miguel Leitão
23 de julho de 2013

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