quarta-feira, 24 de abril de 2013

“INFÂNCIA”



Não minha mãe. Não era ali que estava.
Talvez noutra gaveta. Noutro quarto.
Talvez dentro de mim que me apertava
contra as paredes do teu sexo-parto.

A porta que entretanto atravessava
talhada no teu ventre de alabastro
abria-se fechava dilatava.
Agora sei: dali nunca mais parto.

Não minha mãe. Também não era a sala
nem nenhum dos retratos de família
nem a brisa que a vida já não tem.

Talvez a tua voz que ainda me fala…
… o meu berço enfeitado a buganvília…
Tenho tantas saudades, minha mãe!

Ary dos Santos
in: “Mário Soares - Os poemas da minha vida”
lido por Maria Antónia Ribeiro

Sem comentários:

Enviar um comentário