Poveirinhas

Poveirinhas

De pés descalços!

Pés que sofrem

E alegres calcorreiam terra batida

para ajudarem o ‘home’

que anda no alto mar,

na faina da pesca.

Pés de mulher!

Vão vender o ‘quinhão’,

as sobras que o Mestre dá,

que distribui da ‘traineira’…

Ah! Traineira!

Já está subido na vida!...

Já não são as ‘chalandras’,

as ‘chalupas’,

as da apanha da sardinha.

E quando sai o ‘chicharro’?…

As mulheres!

As mulheres ficam em terra

a remendarem as redes…

Saia travada, chinela no pé,

avental com laço bem dado,

de gamela à cabeça,

lá vão elas, aldeias fora…

Lindas ‘Pescadeiras’

Vender o peixe… os ‘tranchos’,

aquilo que o pilado não comeu

e é marisco na casa dos ricos,

aos pescadores serve

para arrecadar uns simples trocados.

Quando em tempos lhes perguntavam:

- Como é hoje?

- É a cruzado.

A freguesa respondia:

- É escusado… É escusado…

E no mar…

Lá vão as ‘lanchinhas’

navegando sobre as vagas…

Parecem gaivotas procurando comida,

um caranguejo, um camarão

ou uma sardinha que caiu para saciar a fome…

Lá vão elas…

Lá vão elas…

Vão alar as pontas das bóias

p’ra apanha da pescada!!

E se fica pescador em terra?

Com o ‘xaveco’ perto da costa,

faz apanha da faneca à linha

que as mulheres vendem pelas aldeias apregoando:

- É faneca da liiiiinha… Da nossa cooooosta…

E quando arribam as embarcações?

Mar vivo!

À entrada da barra

as correntes se debatem

pra ver qual delas tem mais força…

Há redemoinhos!

Não há pé! É perigoso!

A embarcação é uma casca de noz

naquele emaranhado de luta…

Avança e recua…

Avança e recua…

No areal as mulheres gritam desesperadas:

- Nossa Senhora do Socorro

socorrei aquele barquinho…

Oh Senhora da Guia, da Lapa, dos Aflitos,

Senhora da Bonança torna a onda mansa

neste mar cão…

Mar maganão …

Deixai-os vir sãos p’ra terra trazem para os filhos pão…

Senhora do bom Despacho

despachai os nossos homens…

S. Pedro Pescador pomos cá fora o andor…

Padroeiro do mar!

E lá vencem!

Senhora da Guia Bendita seja…

No seu dia é feriado,

o pescador a promessa vai pagar…

Vila do Conde e Póvoa do Varzim,

não sai pescador ao mar.

Fernanda Garcias

in "Colectânea Galeria Vieira Portuense 2012"