quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

VENTANIA


VENTANIA

A invernosa ventania bate, com fúria
No toldo do café e verga os corpos
No passeio buscando abrigo
Ao som das velas enfunadas
Pela raivosa natureza que tolhe as carnes frias.
Avança o tempo, tempo da madrugada…
Mas só fica a melancolia da rajada
Que nos leva sem vida para a cova fria.
Que me trás o vento no toldo da esplanada
Se curioso fico quando se esvazia?...
O tlim, tlim dos cabos nos brandais,
Som húmido que acompanha as velas e os estais
Que levam navegautas a portos derradeiros
Para escapar à invernosa ventania.
Agora já não contemplo as profecias,
Vivi este presente num passado já distante
Em águas azuis, douradas ao poente sol e
Nos vermelhos para lá do horizonte.
Assim encanta-me o viver neste monte de idade,
Esquecendo a fúria do vendaval.
Ao procurar no leme a roda da alegria,
Por não ser já participante em causas nobres,
Ao som das vagas no costado, as velas
Levaram-me já para abrigo sem destino
Onde procuro ser menino…
Tu, irmão, faz uso da fúria e da ventania
Porque na melancólica rajada terás o fim daqueles
Que te querem pequenino…
O toldo da esplanada amainou.
Não sinto o som, não oiço nada da invernosa ventania.
Por ser verdade que há outros mares planetários,
Outras vidas, outros ais, releva-me o direito
De tudo não ter feito…
Será que me aceitas?.

Luís Pedro Viana
19 de Janeiro de 2013-01-23

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