XXIX
Hoje o
dia nasceu desigual,
há
qualquer coisa desigual:
a luz
está ausente, o ar cheio
de um
vento quieto. Tudo é denso.
Encheu-se
o céu de cerejas – uma cúpula
de
árvores sem tronco nem ramos,
a que
não chego. Quase não se distinguem,
manta
amalgamada de frutos. Como
um rio
de sangue suspenso. Não se ouvem
suas
águas. A terra carrega uma caligrafia
desigual
e põe o dia fora da paisagem.
Todas as
formas ficam no meu movimento
extático,
procurando ler o que já li, desigual.
Sobre a
minha cabeça abate-se a ameaça, pesa,
como uma
flora de estrelas encarnadas, a traição
celeste,
a fuga sacrossanta dos frutos, a maldição dos deuses.
Fernando
Hilário
in “A idade das paisagens anteriores”
lido
por Manuela Caldeira
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