XVIII
Na casa
aonde já não entro, permanece
a boneca
sentada no sofá, o jornal que se encolheu no chão
dorme
ainda, a manta de xadrez cobre-nos a cabeça, deixa tudo ao léu
e
asfixia-nos. Não sei o que guardas nas gavetas,
dos armários
onde fechas os poemas. Esqueces, talvez,
que nós
somos o tempo e a memória
duma
cerejeira a crescer e das vezes
os
frutos que comemos. Talvez esqueças também
que as
flores nas jarras e os dedos adesivos das heras nos espelhos
constroem
os equívocos. O tempo
não tem
braços quando a noite
arrefece
a cama e a mesa
à porta
da casa.
Fernando
Hilário
in “A idade das paisagens anteriores”
Manuela
Caldeira
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