quinta-feira, 21 de novembro de 2013

XVIII



XVIII

Na casa aonde já não entro, permanece
a boneca sentada no sofá, o jornal que se encolheu no chão
dorme ainda, a manta de xadrez cobre-nos a cabeça, deixa tudo ao léu
e asfixia-nos. Não sei o que guardas nas gavetas,
dos armários onde fechas os poemas. Esqueces, talvez,
que nós somos o tempo e a memória
duma cerejeira a crescer e das vezes
os frutos que comemos. Talvez esqueças também
que as flores nas jarras e os dedos adesivos das heras nos espelhos
constroem os equívocos. O tempo
não tem braços quando a noite
arrefece a cama e a mesa
à porta da casa.

Fernando Hilário
in “A idade das paisagens anteriores”
Manuela Caldeira

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