NEM SEQUER PODIA
Nem sequer podia
Ouvir falar no teu nome.
E se fixava o teu vulto,
Irritava-me, sofria
Por não poder insultar-te...
Até que um dia,
- Foi
Inverno, anoitecia.
Chuviscava; - uma chuvinha
Impertinente e gelada
Como sorriso de ironia
Numa boca desejada.
Já não sei o que disseste;
Nem me lembro do que eu disse...
A chuva continuava.
Atravessámos um jardim
E à luz fosca
Dum candeeiro,
Segredaste ao meu ouvido:
- Quero entregar-te o meu corpo.
E eu acrescentei: - Pois sim.
A chuva tornou-se densa.
Eu ia todo encharcado.
Por fim, chegámos; entrei...
Um marinheiro descia
Ajeitando a camisola
E compondo os caracóis.
Chuviscava; - uma chuvinha
Impertinente e gelada
Como sorriso de ironia
Numa boca desejada.
Já não sei o que disseste;
Nem me lembro do que eu disse...
A chuva continuava.
Atravessámos um jardim
E à luz fosca
Dum candeeiro,
Segredaste ao meu ouvido:
- Quero entregar-te o meu corpo.
E eu acrescentei: - Pois sim.
A chuva tornou-se densa.
Eu ia todo encharcado.
Por fim, chegámos; entrei...
Um marinheiro descia
Ajeitando a camisola
E compondo os caracóis.
Era uma
casa vulgar
Aonde o amor
- Oculto a todos os sóis,
Se vendia a troco da “real mola”.
Aonde o amor
- Oculto a todos os sóis,
Se vendia a troco da “real mola”.
Arrependi-me. Blasfemei;
Mas quando abandonei os teus braços
Senti
que tinha mais alma!
E nunca mais te encontrei.
E nunca mais te encontrei.
Antonio
Botto
in “Mário Soares – os poemas da minha
vida”
lido
por Lourdes Ferreira
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