PARA PODER DORMIR
Já é para mim hora de dormir.
Procuro nova forma de me
Consumir.
E que encontro ao lado senão o
Presumir.
Se o vento vem sempre a zunir
E, as árvores a bulir.
Que é isto que me dói e me pode
Destruir.
Que me encanta não estar a tinir.
Poder estar de verdade a sorrir,
E à pátria sempre vir.
Poder matar sem dor e fugir,
Semear e florir,
Para que possa sempre rir
Deste mundo, sem ter que partir.
Perder tudo o que tenho, sem ter
Que pedir.
Alcançar sem ter que medir
As altas montanhas a subir
Sem ter medo de sucumbir.
Ver-me ao espelho sem me inibir.
Nas mãos o mundo construir
Sem tudo destruir.
Abrir brechas, abrir…
Para tudo conseguir.
Uma montanha, um rato, parir
A vida com arte, para poder dormir.
in “Enigma”
Luís
Pedro Viana
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