sexta-feira, 26 de abril de 2013

VEM DE MANSINHO



VEM DE MANSINHO

Vem amor, assim de mansinho, noite dentro e nada receies…
Olha que o tempo, sempre tão voraz, não leva no seu colo
o amor infinito que germina como o roseiral na luz solene
e fecunda da Primavera, nem colhe desaconchegado
os matizes com que teço as pérolas que tenho para te dar…

A lua, olha-me opalina e, no silêncio da noite ouvindo a voz rouca
do vasto mar, eu sei que não posso adiar, que é inútil render-me à força
da razão que me diz não dever querer que venhas para comigo ficar.
Mas olha que eu não posso adiar a tua voz… olha que o meu rosto
e as minhas mãos já se desbotaram porque conhecem o rumor
da tempestade e sabem como já perdi um outro amor, e como
foi causa da sua perda o ter achado que podia suspender
o tempo no seu enlear e ficar na espera do eterno regressar…

Vem, eu não posso perder-te como te contei…
Eu já tecia na minha carne atalhos por onde quis partir,
levar o teu nome a um outro lugar, eu já quis esconder
na areia molhada os meus dedos para que escrevessem
um outro nome que fizesse no meu coração o mesmo rendilhar,
mas foi inútil, porque em tudo havia o vento embalar o teu nome
como fazem as sereias no seu encantar, e foi inútil,
porque conheço a voz do teu nome, a força do amar…

António D. Lima

Sem comentários:

Enviar um comentário