VEM DE
MANSINHO
Vem
amor, assim de mansinho, noite dentro e nada receies…
Olha que
o tempo, sempre tão voraz, não leva no seu colo
o amor
infinito que germina como o roseiral na luz solene
e
fecunda da Primavera, nem colhe desaconchegado
os
matizes com que teço as pérolas que tenho para te dar…
A lua,
olha-me opalina e, no silêncio da noite ouvindo a voz rouca
do vasto
mar, eu sei que não posso adiar, que é inútil render-me à força
da razão
que me diz não dever querer que venhas para comigo ficar.
Mas olha
que eu não posso adiar a tua voz… olha que o meu rosto
e as
minhas mãos já se desbotaram porque conhecem o rumor
da
tempestade e sabem como já perdi um outro amor, e como
foi
causa da sua perda o ter achado que podia suspender
o tempo
no seu enlear e ficar na espera do eterno regressar…
Vem, eu
não posso perder-te como te contei…
Eu já
tecia na minha carne atalhos por onde quis partir,
levar o
teu nome a um outro lugar, eu já quis esconder
na areia
molhada os meus dedos para que escrevessem
um outro
nome que fizesse no meu coração o mesmo rendilhar,
mas foi
inútil, porque em tudo havia o vento embalar o teu nome
como
fazem as sereias no seu encantar, e foi inútil,
porque
conheço a voz do teu nome, a força do amar…
António D. Lima
Sem comentários:
Enviar um comentário