quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Vem Mãe


Vem Mãe

Vem, mãe, e fala-me de novo
Do mundo rosa que talhaste a meus pés
Das árvores a florir num país debruado de azul
Das aves a esvoaçar sobre os telhados
Dos homens corando nas palavras mais impuras
Do riso álacre das crianças agarrando em suas mãos
O mundo redondo em seu pleno devir…

Vem mãe e diz-me que me enganei
Que o mundo é mesmo o que me dizias
Quem em agrura as bocas não se silenciam
Que ninguém vive esfaimado de viver
Que nenhum meu igual ergue agoniado aos céus
As suas duras mãos vazias…

Vem mãe, e fala-me baixinho
Do mundo que para mim moldaste
Quero vê-lo com os meus olhos rasgados
Pois vejo-o tão plúmbeo, tão esbatido, tão sem matizado
Tão denso em seu duro contraste
Que acho que não foi este
Que tu sempre em encanto me mostraste …


Acilda Almeida
in "Colectânea Galeria Vieira Portuense 2012"

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