ERA UMA
VEZ
Andava
um sável nadando
Nas
águas negras do Douro,
Era a
vida procurando
Ninho
para o nascedouro;
Mas
prendeu-se, porém, num anzol!
Foi-se-lhe
a vida, o norte
E o
peixe brilhando ao sol
Pegou à
vida com a morte!
Era um
leitão pequenino,
Que
‘inda há bem pouco nasceu,
Mas um
destino assassino,
Olhou-o
e ele pereceu!
Depois,
com requintes o assou;
Pô-lo na
mesa e fartou-se,
Logo o
leitão se esfumou;
Tão cedo
a vida gorou-se…
“Eles
comem tudo, eles comem tudo,
Eles
comem tudo e não deixam nada”
Era um
galo tão novito
Inda
ensaiando o cantar,
Mas o
galo-pai vê no dito,
O rival;
eis o caos no lugar.
O dono
mira o frangote
E depois
olha a panela,
Pede à
mulher um fartote
De
franguinho à cabidela.
Uma
lagosta espraiava
Com os
iguais seres marinhos;
Já o
pescador preparava
má sorte
para os bichinhos.
A
lagosta vai prá panela,
Morre na
água a ferver…
Eu sofro
com as dores dela!
Como a
maldade entender?
“Eles
comem tudo, eles comem tudo,
Eles
comem tudo e não deixam nada”
Custa
caro a mariscada
E mais
caro fica ao peru;
Antes da
pena arrancada
É vermos
o seu corpo nu,
A ave é
embriagada.
Não sabe
o pobre animal,
Que após
a boa golada
Dão-lhe
a morte em ritual.
Serpenteava
a lampreia
Entre os
rios de Portugal;
Mas ai
que, de volta e meia,
A
voracidade animal
Ataca e
era uma vez!
É comida
com tal apreço…
Mas não
é todo o português…
Pelo
requinte e o preço.
“Eles
comem tudo, eles comem tudo,
Eles
comem tudo e não deixam nada”
E as
enguias? Ai senhores!
Quem
para elas pode olhar?
Pra mim
é cena de horrores,
Mexem no
óleo a fritar!...
É tão
dantesca a imagem
Que eu
de fome bem morria,
Pois não
teria a coragem
De dar
tamanha agonia!
Lembro-me
daquela senhora
Que
criava no seu quintal,
Com seu
jeito de amadora,
Pra além
das couves, um pombal;
Traz uma
pomba, dá-lhe um beijo
E ouço o
crac de um osso.
Horror,
o que então eu vejo:
Torcer à
pomba o pescoço!
“Eles comem
tudo, eles comem tudo,
Eles
comem tudo e não deixam nada”
Somente
a terra é perfeita!
Deixa
tão limpo o espaço
E acaba
qualquer maleita.
Tudo
morre em seu regaço!
Não vai
à pesca ou à caça,
Não tem
porta nem janela,
Mas vai
limpando a desgraça
Que espalham
ao redor dela.
“Ela
come tudo, ela come tudo,
Ela come
tudo e não deixa nada”
Junho
2009
Maria
de Lourdes Martins
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